Um problema de foco

Sou alguém de atitude calma, mas de curiosidade hiperativa. Por conta disso, estou sempre procurando algo onde alocar minha atenção — seja para produzir ou consumir —, mas raramente a estacionando em algum lugar por muito tempo.

Começo 5 livros em um só dia, mas não termino a maioria. Dou início a uma nova aventura num jogo, mas a animação me abandona depois dos primeiros passos. 20 ideias de projetos invadem minha mente, e depois de festejar um pouco, vão embora.

Eu quero explorar bastante ao mesmo tempo que é pouco aquilo que me prende. Sou como um entusiasmado entediado, ou um interessado desinteressado. Talvez seja esse o problema de ter muitos interesses: você não sabe onde se focar. Não por muito tempo. O resultado disso é alguém inconstante.

Como é preciso constância para evoluir, a inconstância é uma espécie de fraqueza. Se houver qualquer considerável ambição produtiva, ela terá de ser amenizada. Isso pode acontecer através de dois modos; um deles sendo voluntário e o outro regrado pela emoção.

O primeiro é pela disciplina: treinar a si mesmo para alcançar um maior controle sobre seus atos; definir e seguir regras comportamentais; forçar ações repetidamente até elas se estabelecerem como hábitos inquebráveis. Como costuma ser para tudo aquilo que é consciente, essa é uma forma trabalhosa.

O outro modo é a paixão. Em alguns casos, obsessão. Aqui você não precisa domar a emoção, mas permitir-se ser domado por ela, pois ela já o leva para onde você quer ir de forma natural. O difícil não é estudar, mas deixar de estudar. Deixar de escrever. Deixar de desenhar. Você é atraído pela atividade produtiva como é atraído pela pessoa que deseja ou à droga que usa. Na mente daquele que é devotado, a paixão possui a dinâmica de um vício.

A vantagem da disciplina é que você possui algum nível de poder sobre ela, enquanto a paixão é dona de si mesma. Claro, você pode cultivá-la, mas no fim você não a controla mais do que controla o sentimento por quem está amando. Além da falta de domínio, a verdadeira paixão costuma ser rara. E nunca somos apaixonados por tudo que devemos fazer, então ela sozinha é insuficiente.

Meu intuito é moldar meu comportamento em um ideal produtivo. Ter mais disciplina e energia. Mas embora eu tenha uma forte queda por organização, sou por natureza tendencioso à rebeldia produtiva (justamente por aquele temperamento inquieto na curiosidade). De fato, todo meu foco e desempenho — e, portanto, progresso — que já tive até agora não foram frutos de uma mente persistente ou de alguma ética de trabalho, mas de fases obsessivas.

Vivo em loops de obsessões de curto-prazo: sou totalmente consumido por um ou dois projetos enquanto negligencio todo o resto da minha vida. Nesses momentos, a produção é tudo que importa. Então passo para outro projeto, com a mesma essência compulsória. Ocasionalmente, há um intervalo de vazio durante a transição, onde não vivo; sou apenas zumbi.

Por necessidade, terei que aprender a ser mais disciplinado. Muitos objetivos necessitam de perseverança. Porém, preciso reconhecer que esse aspecto quase maníaco da minha personalidade nunca será eliminado por completo. Faz parte do meu processo de inventividade, e isso é algo que eu jamais seria capaz de aniquilar.